terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Morrendo (poesia)






Estavam juntos, loucos de tesão um pelo outro

Eis que do ribombo do trovão, um curto circuito se operou

E umas fagulhas safadas incendiaram o quarto do motel

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E a cena, tétrica, apareceu num programa policial local

Devidamente tarjada, claro

Mas dava para apreender duas coisas da imagem em “blur”:

Ali jaziam dois corpos carbonizados e

Os corpos estavam num delicioso 69.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Das conversas no Tinder (poesia)





Ela: dormiu bem?


Eu: like a baby!


Ela: traduza, plis.


Eu devaneando, mas não escrevendo: que tipo de pessoa é essa que não sabe um inglês tão elementar?


Eu: igual a um bebê! como um anjo, mas barroco!


Ela: o que é barroco?


Eu, brutal e prontamente, dei um block nela. Não conseguiria ter nenhum tipo de relação com uma mulher que não sabe o que é barroco.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A lágrima do palhaço (poesia) - parte I





(I)


Era eu um menino triste, coitado.
Quase um infante-arrombado, abatido por uma doença aí.
Meu sorriso esbanjava uma melancolia que irradiava de amargura toda a praça.



Um dia meu pai fala: leve esse porra pro circo. Quem sabe lá ele não desanuvia.
Boa idéia, Pai, disse minha irmã: lá tem bicho, trapézio e palhaço.
Palhaços! Pensei eu: isso deve ser chato demais.
Mas...



Fomos para o tal do circo. Não achei graça nos bichos e muito menos nos palhaços.
Uma pessoa que ganha a vida para fazer os outros rirem... Sei não, visse?
Desconfio deveras.
O palhaço tem uma maquiagem pesada, pó de arroz, ruge, carmim...
Para que enfeitar tanto a cara se ele mesmo arqueia a sobrancelha pintada para baixo.
Como se em um desejo auto-afirmativo de “sou triste”.



Triste sina a do palhaço: sem dinheiro, sem mulher, sem carinho, parecendo o José do Drummond.  E tem que fazer os outros acharem graça do seu semblante melancólico.
De sua peruca rota. Dos seus sapatos grandões. De suas vestes em farrapos.



Coitado...