sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Carne (poesia)




19 anos. Profissão: churrasqueiro
Do seu ofício fazia seu meio de sustento; um laboral dos bois: esfaqueando-os, dilacerando-os... Enfim, um artista anti-vegan
Mas ser churrasqueiro não é motivo de pompa ou glamour
Josevaldo, literalmente, trocava horas na frente de uma fumegante churrasqueira
repleta de carne de boi, frango e suíno por uma quentinha


Igual churrasqueiro a ele existiam milhares de outros
Bastava diferençar os cortes de carne e manejar bem o fogo para assar e pronto:
estava batizado com juras e tudo o mais na escola do churrasco e da vida


Ele estava noivo dela
Perspectiva zero de um futuro promissor; ele nem tinha cartões de crédito, nem crediário nas lojas da sua cidade
E ela cobrava: e o fogão? e a tv de plasma?
Ele, Josevaldo, dava de ombros, falava “foda-se” e ia comprar carvão


Mas ele gostava de sua noiva e nutria por ela um tesão gigantesco
Um dia ele, num afã, pegou de um pincel atômico
E aproveitando do sono dela começou a tracejar o corpo dela todinho
- tal qual uma vaca –
E a escrever com seu português rude os nomes das peças de carne no corpo moreno dela:
“Picanha”, “Músculho”, “Filé”, “Largato”, “Contrasfilé” etc.

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Ele comeu-a até fartar-se

Um comentário:

  1. ADOREI! E de alguma forma, lembrei do Edgar Wilson... Um beijão em ti.

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