terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O primeiro porre e a merda voadora (conto)

*Optei livremente por não usar a norma culta de ortografia e sintaxe da língua portuguesa

Aracaju-Maceió, 1996. Tem coisas das quais a gente não se esquece. O primeiro porre é uma delas. Eu estava com 16/17 anos e muita pouca experiência nas artes da vida. Quase um infante. Eu costumo falar que um homem só é homem mesmo, no sentido de formação moral não-católica, quando toma um porre, vomita e fica na sarjeta. Uma espécie de batizado de passagem da fase juvenil para a fase adulta. Bom, deixando esse discurso blá, blá, blaico de lado, vamos voltar à história. Uma amiga iria fazer seu aniversário justo no dia em que combinei uma viagem com meus pais para vermos uns parentes nossos. “poxa, Painho, mas não queria perder essa festinha e tal. vamos combinar assim: vocês vão antes, eu fico em Aracaju pra festa e depois vou de ônibus. a gente combina de quando eu chegar em Maceió, na rodoviária, o senhor me pega por lá”. Feito os acertos e dada as recomendações, meus pais viajaram um dia antes e eu fiquei em Aracaju. Massa! Festinha garantida! Comprei uma passagem para as 19 horas do dia da festinha. Como seria um churrasco, teria o dia todo para curtir uma piscina, uma boa carne e uma cerveja. Chegaria (como cheguei) em Maceió às 23 horas e pouco. Dia da festa de aniversário dessa minha amiga e eu, animadíssimo, pulei da cama às 10 horas, tomei um bom banho, arrumei as malas, deixe-as à minha espera para tão logo mais tarde e rumei para a casa dela. Estava eu rodeado de excelentes amigos e comecei a beber cedinho, umas 11 horas mais ou menos. Antes, combinei com o pai dessa minha amiga que um carro da empresa de rádio-táxi dele iria buscar-me a tempo de passar em casa e deixar-me na rodoviária perto das 19 horas, horário de embarque. Cerveja vai, conversa vem, bate papo, piscina, muita carne. Parece que o efeito do álcool nunca chega nessas condições. Bebe-se muito e embriaga-se pouco. A cerveja esvai-se do nosso organismo nas milhares de mijadas que damos no mictório, sempre errando a mira e mijando mais no chão que dentro do vaso. Aviso aos navegantes de primeira viagem: esse efeito da falta de álcool só tem a validade quando do momento em que a piscina torna-se friazinha, suas águas já nos ardem os olhos e a macacada começa a comer aquela carne esturricada que ficou esquecida no cantinho da churrasqueira. Geralmente o efeito ebrius começa a aparecer por volta das 17, 18 horas. Mas que porra! 18 horas foi o combinado com o chofer para ele ir me pegar. Caralho! Vou perder o ônibus. Eu já estava meio sem reação, lerdo de cerveja e carne a atolar o estômago. Por sorte, o pai dessa minha amiga, mui solícito e rápido, conseguiu um carro para mim. O táxi chegou à casa dela às 18:20 horas. Fodi-me, não vou conseguir ir para Maceió hoje! Pensava nisso o tempo todo. Colocaram-me no carro, instruções deram ao motorista e ele foi passar na minha casa para que eu pegasse minha mala. E o banho? Que banho, meu nego, você está com o tempo mais apertado do que cu de sapo. Mas foi o tempo certinho de eu chegar na rodoviária e pegar o ônibus que já estava a partir. Eu estava com o corpo úmido, de calção de banho por baixo da bermuda, cheirando a cloro de piscina, bêbado, com um mal-estar dos diabos, mas feliz. Eu iria viajar dormindo, curtindo um estado de euforia mental, deitado e ainda ia chegar em Maceió com a cara limpa, sem resquícios de ressaca. Ótimo! Mas eu juro que não contava com o péssimo estado da rodovia federal no Estado de Alagoas, nem com meus intestinos e estômagos super-frágeis. No chacoalhar do ônibus, a cerveja e as carnes e as calabresas iam e viam, do estômago para o esôfago, causando-me ânsias de vômitos quase à beira de explodir tudo numa golfada. Minha cabeça parecia o Vesúvio. Uma dor do cacete. E o rapaz ao meu lado dormia o sétimo sono. REM total. E eu estropiado. Metade da viagem (tormento, para mim) e senti uma pontada no intestino baixo, perto do rabo. Lembrei-me que sou “cagarréico” (neologismo: aquele que se caga por comer muita fritura, gorduras, ingerir fermentados etc.). Puta merda! Cagar no ônibus é muito ruim. Mas o que se há de fazer. De modo muito gentil, solicitei licença ao rapaz que viajava na poltrona ao meu lado e fui à direção ao W.C.. Todos dormindo. Nenhum alarde. Beleza! Assim que me sentei, caguei e adormeci naquele gostoso chacoalhar. Dormi uns 20 e poucos minutos. Acordei-me num salto, higienizei o rabo e fui me vestir. Como estava muito alcoólico, pisei no pedal de descarga sem querer, ao aparar-me nas paredes do banheiro para evitar um tombo. Imediatamente senti todo aquele odor ruim de banheiro de ônibus a empestear o pequeno ambiente. Oh, oh! Presenti a seguinte situação (vejam como lógica de bebum não vale um conto sequer): em um grande tombo devido, talvez, a um grande buraco, o ônibus fez com a merda do vaso se espalhasse por todo o W.C.  e, por conta disso, eu estava a sentir aquele cheiro horrendo grudado em meu corpo, em minhas roupas. Óbvio que ao se dar descarga em sanitários de ônibus aquele cheiro de bosta fica on air. Mas eu estava embriagado. Não se esqueçam disso. E com que cara eu iria voltar pro meu assento. Afinal eu me imaginava todo sujo de cocô. Com uma forte vergonha e coragem superior, engoli a resignação e fui arrastando-me ao assento 13. Com muito jeito pedi licença ao rapaz novamente e não resisti. Tinha que relatar o acontecido. Falei: “bicho, aconteceu uma coisa lá atrás. a merda voou no banheiro”. O rapaz retrucou com um “o quê?”. E eu disse novamente: “bicho, o ônibus passou num buraco no momento em que dei a descarga e a bosta voou por todo o banheiro. estou todo melado e fedido. quer ver? dá uma cheirada aqui”. E ofereci meu braço pro rapaz cheirar. O diagnóstico: “velho, você está fedendo a cloro e não a merda. você está é bebum. isso sim”. Puta merda! Fiquei muito aliviado com a constatação lógica do companheiro. E melhor que já estávamos pertinho de Maceió. Sem cheiro de merda, sem atrapalhar o sono dos passageiros e sem constrangimentos, pude ver Maceió crescendo em frente aos meus olhos. Que alívio. Faltava umas três quadras para o ônibus chegar a rodoviária quando um súbito rebolo subiu do meu estômago para minha boca. E lembrei-me que cerveja e carne e balançado são imiscíveis dentro do estômago e seus sucos gástricos. Corri para o banheiro e vomitei uma massa gigante na pia. Mas aquilo tinha um fedor azedo horrível. Meti a mão na torneira e constatei que não mais tinha água. Foda-se, pensava: “estamos a uma quadra da rodoviária e ninguém mais vai usar esse banheiro”. Aliviado do vomitado e esquecido que o exaustor desses banheiros não funciona quando o carro está parado fui inventar de abrir a porta no exato momento em que parávamos em um semáforo. Um cheiro de vômito azedo impregnou as narinas de todos os passageiros. Todo mundo começou a reclamar e uma senhora que estava perto da porta do W.C. golfou toda sua bela refeição no corredor. Um desfecho trágico bem no finalzinho da novela. Ao descer do ônibus os passageiros reclamavam aos céus que uma pessoa tinha vomitado fedorento dentro do carro e que o cara deveria estar bêbado e tal. Fui o último a sair. Com cheiro de cloro, cabelos horrivelmente desgrenhados, olhos esbugalhados, hálito podrido e vendo meu pai, esperando-me, fazendo “tsc, tsc” para mim.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Probabilística (poesia)


Chet Baker puxou uma cadeira
chegou-se perto dele e falou
'Man, play your tamborine that I play my trumpet in a duet with you'
Jackson do Pandeiro virou-se pra Chiquinha Gonzaga
dizendo que não tinha entendido porra nenhuma
do que o gringo havia lhe dito

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cânceres (poesia)


E esse câncer no cérebro? Peguei de tanto pensar!

E esse câncer no pulmão? Peguei de tanto fumar cigarro!

E esse câncer no cacete? Peguei de tanto fuder!

E esse câncer no coração? Peguei de tanto amar alguém!

Decidi que antes de morrer dessa metástase bendita eu vou:

- filosofar muito para estragar de vez a porra da minha cabeça

- fumar quatro carteiras de Camel por dia e esburacar mais e mais meus brônquios combalidos

- contratar uma puta ruiva em tempo integral e bater muita punheta que é para ver se meu pau esfola de vez

- não amar mais ninguém, pois dessa multiplicação descontrolada das células do meu miocárdio eu quero me curar

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Do por que visceral de eu gostar de LP’s (poesia)


Todas as vezes que olho os discos de vinil rodando na vitrola,
Sempre me vêm à cabeça uma memória, uma analogia.
Sei lá. Uma coisa gostosa.
Analogia “pornografiorum”.



Quando vejo a ponta da agulha deslizando com malícia
Nos sulcos do disco,
Penso em um pau latejando de duro, in erectus,
A deslizar por entre os lábios da vulva.
E aquele embalar gostoso,
Do sacolejar do disco subindo e descendo,
Lembra o movimento das ancas femininas por cima do homem:
O pau sendo ocultado pela buceta.



Num vai e vem num ritmo mais que gostoso.
Como se nunca quisesse acabar nunca.



Vai ver que por isso que prefiro os cálidos LP’s aos
Gélidos e frígidos CD’s.
E o que esperar de sexual de um MP3?
Nothing.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ruiva (poesia)


Ruivas são padrão de beleza?
Só se na Irlanda for.
Aqui se opera o milagre da farmácia
e cabelos negros e castanhos se tingem em um ruivo
profundo, quiçá profundíssimo.


Mas a mulher em questão não era atraente pelos cabelos,
mas pelo corpanzil. Ou pelo appeal.
Ou por saber ser sexy com o mínimo de gestual.
E de roupas.
Puta? Não! Decerto que não.
Mas ela encantou todos os homens que, tolos otários,
requebravam as cabeças para vê-la passar.


Nosso contato visual durou dois segundos.
Numa fila de um caixa eletrônico bancário.
Suficiente
para causar-me um devaneio e imaginar-me
fartando-me nela, a Ruiva.


Ela se foi tão rápida como quem veio.
Retirei uma grana, conferi meu parco saldo.
Peguei da minha bengala e rumei para as escadas.
Provavelmente já nem lembro mais dela.
Aliás,
dela só me restou as lembranças para esse poema.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sobre livros de poesias (poesia)


Por que eu gosto/prefiro livros de poesias a romances?
Um livro de poesia nunca reclama quando se o é aberto fora de ordem
de trás para frente, pervertidamente excitado ou quando se o lê bêbado.


Imaginem ler Ulisses de pau duro?!?


Não!!! Simplesmente não dá.


Prosa curta talvez ainda se dê para ler dessa forma caótica, mas tal qual a poesia, não.
Só li um livro de poesias que tinha todo um rigor na ordem da apresentação dos poemas.


Mas um Tolentino a gente deixa.


Quer coisa mais gostosa e prosaica que se abrir um livro e ler um trecho, quiçá uma poesia completa e depois, deliciosa e maliciosamente, fecha-lo displicentemente como nada tivesse acontecido? Desconheço (fora sexo) coisas que me dêem mais prazer.


E ainda tem o seguinte: poesias não são como peças de repertórios eruditos. Ninguém normal (ou louco que o seja) consegue ouvir com o mesmo sorriso nos lábios Mahler e Vivaldi, um após o outro. Não sei se sou não-humano, mas consigo transar bem Drummond e Bukowski numa boa. Como se trepando duas vezes sem tirar.


São dessas nuances que me fazem grande amante prostituto dessas artes que por trás estão da poesia. E viva o poder de ter livre-arbítrio para querer se ler poesias do jeito que EU quero e que EU posso.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

F com C (conto)


Lascivo. Essa sim é a melhor palavra para descrever aquele corpo branquinho de leite e que me deixava teso do pau assim que eu botara meus olhos sobre seus seios, nádegas e cabelos. Foder C era imperativo, pois meu e nossos corpos pediam isso há muito. Quantas vezes esporrei-me em rios de gala em dirty chats?; quantas vezes quedei-me de pica duríssima em público tendo que disfarçar a ereção com uma cruzada de pernas só por imaginar meter na sua boca úmida de saliva meu pau vergado?; quantas, quantas vezes não imaginei o sabor da boca e da buceta de C? Muitas, nobre leitor, muitas. Eu era o desejo, o tesão e o sexo em seu estado mais puro e animalesco. C também gostava e se deliciava por mim à distância. Quando nos encontramos ao vivo, um abraço prolongado. Papo vai e vem e um beijo gostoso para experimentar o sabor da boca dela e antevendo os sabores que iria experimentar logo mais. Não mais aguentando-nos de desejos rumamos para um motel.... chegando lá entre despir-se e cairmos no fellatio e no cunilungus foi um passo natural, quase que realizado pro instinto de C querer experimentar meu pau na sua boca e de eu querer experimentar sua buceta úmida e exsudante em mim.


Sexo não tem muito mistério. Há um repertório de atos e coisas quase que como uma peça de música erudita. Andantte, Largo e Molto Vivace. Assim mesmo: um movimento rápido, outro melancólico e o final com alguma rapidez. E voilá. Eis sexo bem feito, consumando as carnes de desejos e tesões. Mas com C o repertório musical não foi seguido (pois rompemos com a escola romântica e abandonamos os movimentos melancólicos) e o sexo com ela ficará imprinting para sempre no meu cérebro. Não foram necessárias horas de fodas homéricas, mas o simples desejo de nos querermos já se nos abastecia. Digamos que tivemos uma transa (no plural, pois foram mais de uma por noite em mais de uma noite) idílica e onírica. Das descritivas só usarei parte delas para deixar o leitor curioso. Sou um exibicionista declarado e compartilhar parte dessas sensações me rendem um prazer deliciosamente sacana.


A maioria dos homens devia deixar de viadagem e entender que prazer anal não é coisa de bicha. Homem macho, heterossexual, também sente sensações deliciosas pelo cu. E uma das melhores senti com C foi quando ela chafurdou sua língua no meio da minha bunda. C disse ser inexperiente nessa seara anal. Mas ela não ficou devendo nada às línguas mais afoitas que já experimentei. Ela me pôs de bruços e eu de pronto empinei minha bunda como que se pedindo língua. Ela percorreu a linha do meu corpo que vai da minha nuca até o início do rego causando-me arrepios e contorções gostosas. “Caralho da mulher gostosa em cima de mim”, pensava comigo mesmo. Se pau tivesse ela poderia me foder o cu sem problemas. Mas ela não o tinha, mas sim uma língua... e meu cu estava totalmente aberto ao bel prazer de C. Eu quase não emito gemidos quando fodo. Mas não pude repreender meus desejos e urrei de prazer quando ela chupou-me lá atrás. (Vivace).


Uma cicatrizinha pode ter múltiplas lembranças: desafeto, vingança, ódio. Mas a pequeníssima cicatriz no joelho de C marcará para sempre aquele noite de prazeres entre eu e ela. Explicarei tudo. Gozei. Depois de um tempo me recuperando, esperando o pau ficar duro novamente, comecei a fazer cócegas na barriga de C. E eu ficava extasiado, olhando bobo para as risadas e gargalhadas dela. E pensando o quanto sou feliz por ter tido uma mulher como ela comigo, compartilhando intimidades e corpos nus e sêmen e saliva. Depois das cócegas e dos devaneios e nada do pau reagir. Eis que C, num rompante, diz que quer ir para a banheira de hidromassagem. Concordei de imediato. Abrimos as torneiras e fizemos da espera para que a banheira ficasse cheia um delicioso momento de compartilhar da visão dos nossos corpos nus. Banheira cheia. Entramos abraçados. E não sei que magia que a água morna operou, mas meu pau ficou duro com uma tora novamente. E me sentei na beirada da banheira e C entendeu meu gesto e no outro segundo ela estava abocanhando-me pela pica. Sensação mais gostosa estava por vir quando ela me pediu num sussuro: “bate punheta na minha boca”. Peguei do meu pau e num ritmado e delicioso vai e vém com as mãos masturbei-me na boca dela, inundada de saliva, encharcando meu pau e babujando-me. Logo depois eu ia meter nela, na banheira mesmo. Mas foi quando C ia ficar sobre seus joelhos e ela se machucou num dos bicos injetores de ar que produzem as borbulhas para massagear. Feriu o joelho, num cortinho muito pequeno, mas suficiente para sangrar e suficiente para abortarmos a ideia da foda na hidromassagem. (Molto vivace).


Na outra noite em que fodemos desbragadamente como dois loucos um pelo outro, o êxtase se me veio numa gozada onde esporrei toda minha gala na boca de C. Um pouco antes eu estava me fartando oralmente da buceta de C e num gesto trepei-me de joelhos sobre o busto dela. A semiótica no sexo é muito lógica e meu gesto foi muito bem entendido por ela que segundos depois ritmava uma chupada deliciosa em mim, alternando a boca na cabeça do meu pau, nas minhas bolas ou correndo a língua pelo corpo da minha pica. E eu puxava com uma delicadeza bruta pelos cabelos dela, empurrando sua cabeça e boca contra meu pau, como se estivesse fodendo-a como se quem fode uma buceta. E às vezes trocávamos olhares e num gestual eu nada precisava dizer o quanto aquilo estava gostoso. Sentir a língua e a saliva úmidas e quentes de C envolvendo-me o caralho era mais que delícia. E eis que senti a porra toda vindo e fiz menção de retirar da boca de C para evitar o fatídico gozo bucal. E ela entendeu minha e nossas vontades, principalmente as dela. E ela agarrou na minha bunda e fez uma leve pressão que entendi assim: “não tire o pau daqui e goze na minha boca”. Gozei. E foi muita gala. E C ia recebendo cada jato do meu gozo na sua boca e golfando parte do sêmen para fora. Parte de mim ia escorrendo para seus seios, parte para seu pescoço, cabelos.... E eis que ela me pergunta se eu tinha gostado. E eu beijei sua boca com toda minha língua compartilhando com ela a última parte da minha gozada, quando senti o gosto mezo salobro do meu próprio sêmen. E terminamos a noite com um beijinho de despedida impregnado de gosto de querer mais. (Vivace com gozo muitissimo).

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Rubro (poesia)


E eu um dia desses fui lavar uma louça lá em casa.



E quando eu peguei na faca, percebi que havia um monte de catch up impregnado nas serras e nos gomos.



E quando deixei o fio de água escorrer pela torneira para que a faca fosse limpa percebi algo:



O líquido vermelho que da faca escorria e que pelo ralo descia parecia sangue. Veio um gosto de um amargor terrível na minha boca. Asco ou nojo ou repulsa.



Mas pensei algo: nunca tive nada contra ver sangue (e aquilo que descia da faca era catch up)... Então porque a ânsia que se me atingia. Que porra era aquela? Coisa de veado? Medinho de sangue? (mas aquilo não era catch up, porra).



De repente: catabum!!! Desmaiei e caí estatelado no chão. Quase me fodo e quebro toda minha cabeça. E só fui acordar dois dias depois numa enfermaria de hospital que mais parecia um açougue de tanto cheiro de mijo e merda e sangue e tripa escorrendo por todos os cantinhos daquele insalubre ambiente. Não fosse por um vasinho com flores no canto e que cuja amarelez irradiava de alegria toda aquela imundície, juraria eu que estivesse dentro de uma pocilga.



E um médico FDP me acorda aos gritos, bem assim: “Tu ta é louco, filho de uma puta... queres morrer. Mate-se pulando de um prédio bem alto que é para dar trabalho ao legista e não para mim”.



Atordoado fiquei por bem uns 15, 20 minutos até cair a ficha e lembrar-me que o catch up que da faca escorrera não era catch up, não. Era sangue meu, mesmo. Eu havia tentado me matar por causa de uns negócios aí.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cicatriz (conto)


Depois de seis anos de namoro, de muitos ramalhetes de rosas e outras flores tão graciosas quanto, depois de muitos salamaleques, gentilezas, abre-portas e uma educação que todos elogiavam, João resolveu pedir-me em casamento.

Que nobre esse homem, pensei. Nem um dedo sequer ele passou por minha bucetinha enquanto éramos enamorados, quiçá ele tivesse afagado vez ou outra meus pentelhos de veludo. Mas foi só. Ele era um gentleman. O máximo de perversão que nos permitíamos era uma sugada nos meus peitos, uma apalpada no pau duro que ele exibia por baixo dos grossos panos de sua calça e ceroula. Mas eram chupadas e quase-punhetas todas muito respeitosas.

Só não conseguia entender como João, na flor da idade sexual, conseguiu ficar seis anos sem sexo. Será que aquele veado se utilizava de subterfúgios com putas ou outras meninas que não eu? Prefiro pensar que não. Se à mulher não é dada a faculdade de se portar como uma cachorra, uma porca ou uma piranha, aos homens também não deveria ser permitida uma buceta ordinária e vadia à espera de seus membros.

Bem, voltando às qualidades de João: ele me escrevia um sonetinho, um acróstico ou uma musiquinha todos os dias. E eu chorava com a sua habilidade literária tão paupérrima, quanto infantil. Mas eu me derretia toda com aqueles versos bobos like me. Meu coração se aquecia e minhas mãos gelavam quando eu lia isso:

... quando eu te vejo, sinto que morrerei
Por não te ter perto todos os dias
Juro que escreverei como se eu fosse um Rei
Odes para sua beleza que um dia para todo o sempre a terei.

Seis anos agüentando isso e o derradeiro pedido de casamento. Aceito, obviamente. Desperdiçar uma boa chance de ascender socialmente de um modo fácil desses seria muita burrice. A fórmula da felicidade eterna é: ficar calada, abrir a boca quando me for dada a oportunidade, nunca propor que ele coma meu cu e nada falar sobre suas amantes, bebedeiras e noitadas de jogatina.

Dia do casamento e eu estava louca de vontade de saber como era trepar. As comadres e tias velhas pareciam mais excitadas que eu quando me contavam de suas noites de núpcias, geralmente culminadas em uma ejaculação precoce e aquela sensação de “é só isso?”. Pompa, glaumour, chuva de arroz, carro decorado com coraçõezinhos e rumamos para nossa tão sonhada viagem. Estávamos mais enamorados que nunca. Chegamos ao hotel à noite e vi João se transfigurar. Ríspido e seco, nem parecia o cavalheiro dos poemas blasés que se me oferecia. Tão canalha quanto brutal ele enfiou o pau em mim, rompendo meu fio de moral que estava preso ao meu hímen por pura convenção católica. Não vi encanto nem prazer na foda em si. Decepcionei-me, mas calada fiquei. Regrinhas para mulheres. Mas ver a cara de alívio de João depois de meter fraquinho quatro ou cinco vezes e anunciar que gozou foi algo meio decepcionante. Sempre pensei em fodas homéricas, com direito a refastelar-me com a boca no cacete de João e ele encharcando-se com o molhado que exsudava da minha buceta. Mas que nada. Tive que ficar imaginando como seria o tal do orgasmo que, adiantando minha vida sexual, nunca tive.

Perguntei se João não me escreveria um poema. Ele respondeu brutalmente assim: “porra de poema. agora somos casados”. Ao que respondi: “e estar casado é deixar morrer o encanto que cultivamos por seis anos?”. Ódio e rancor no rosto dele. E a resposta que ele me dera foi tão crua quanto dilacerante: a taça onde ele bebia um Porto tão seco quanto um pedaço de cortiça voou direto em meu rosto. Minha cara molhada daquele tinto estava levemente cortada. A taça espatifara-se logo abaixo do meu olho. Não contente João catou um caco que estava no chão e golpeou minha bochecha. Abriu-se um talho gigante por onde um riacho desceu inundando minha boca com um gosto rubro de sangue. Tudo isso acompanhado por gritos de:

“cala a boca, puta do caralho”
“abriu a boca para falar merda vai levar no cu da próxima vez”

Passei o resto da minha vida com João. Parecia uma aberração. Com uma cicatriz no rosto e um gosto eterno de revidar essa porra que ele me fez. Mas calada fiquei e no hospital aquela velha desculpinha de que tomei um tombo e cortei meu rosto em um lugar qualquer. Sou uma mulher pior, diminuída, humilhada sometimes. Carrego no rosto o estigma horroroso de um casamento falido e afundado em aparências como esse que possuo em mim. Sou uma mulher para o bel prazer de João que força sexo comigo quando ele não se deleita com suas putinhas.

Não mais posso viver com esse carma. Au revoir. Peguei no revólver e finalmente experimentei a sensação do fellatio. Pena que por poucos segundos. Até o momento em que puxei o gatilho e bum.