quarta-feira, 20 de março de 2013

A seco (poesia)




É simples o fato de eu não chorar com lágrimas: a maioria das pessoas, aposto,
não entenderiam um homem de 1,85m com os olhos marejados por aí, pelos cantos
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Como a cada dia que passa estou mais misantropo, choro seco,
 engolindo a umidade da lágrima,
para não ter que dar uma explicação incoerente para as pessoas
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E qual o porquê do choro a seco?
Saudades dela, obviamente.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Amor para Raimundo (poesia)




Entrei no ônibus e torci para ter um lugar vago onde eu pudesse sentar meus ossos
Tinha um lugar vago bem ao lado de uma gorda, loira e mal-feita
A loirice dela era vulgar demais e tão verdadeira quanto Judas
As unhas dela aparentavam uma nojeira



Sentei-me e juro que incomodado estava
Encostar por esbarrão naquela mulher era um exercício de comunhão bacteriológica
Eis que o celular dela tocou. Era Raimundo (e seria impossível não saber quem era)
Raimundo deveria ser o namorado ou esposo. E pelo monossilabismo da conversa que eu captava, tentando interpretar o que falava Raimundo, presumi que ele estava se desculpando por uma cafajestada qualquer



Conversa findada. A loira suspirou fundo e disse baixinho: é foda!
De pronto ele tirou de sua bolsa um bombom de chocolate “Sonho de Valsa” e escreveu em um pedaço de papel em letras garrafais: AMOR PARA RAIMUNDO.
Ela olhou o bombom, olhou o que escrevera no pedaço do papel e disse para mim: “esse Raimundo...”



Ela amassou o papelzinho, jogando-o pra fora do ônibus, e comeu o bombom.