(I)
Era eu um menino
triste, coitado.
Quase um
infante-arrombado, abatido por uma doença aí.
Meu sorriso
esbanjava uma melancolia que irradiava de amargura toda a praça.
Um dia meu pai
fala: leve esse porra pro circo. Quem sabe lá ele não desanuvia.
Boa idéia, Pai,
disse minha irmã: lá tem bicho, trapézio e palhaço.
Palhaços! Pensei
eu: isso deve ser chato demais.
Mas...
Fomos para o tal
do circo. Não achei graça nos bichos e muito menos nos palhaços.
Uma pessoa que
ganha a vida para fazer os outros rirem... Sei não, visse?
Desconfio
deveras.
O palhaço tem
uma maquiagem pesada, pó de arroz, ruge, carmim...
Para que
enfeitar tanto a cara se ele mesmo arqueia a sobrancelha pintada para baixo.
Como se em um
desejo auto-afirmativo de “sou triste”.
Triste sina a do
palhaço: sem dinheiro, sem mulher, sem carinho, parecendo o José do Drummond. E tem que fazer os outros acharem graça do seu
semblante melancólico.
De sua peruca
rota. Dos seus sapatos grandões. De suas vestes em farrapos.
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