segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ferro nela (conto)

p/ meu amigo JJ


Comecemos com o nome dela: Suely. Simples e singelo como sua alma, como veremos no decorrer desse conto. O rosto dela era perfeito. Michelangelo perderia feio para quem fez aquela tão bela fôrma. O nariz era delicado, a boca de traços suaves. Só os olhos, apesar de estarem na medida, eram sem brilho, opacos, pale eyes. O seu colo era um encaixe enigmático para a cabeça de todos os homens magoados do mundo. Seus seios. Hum, os seios... Dois deliciosos bólidos que saciariam a fome e a sede de todo um batalhão. Formas da morfologia do pecado, da serpente do Éden. Do tamanho de duas pêras grandes, cabiam exatamente nas bocas de quem quisesse sugá-los. Os bicos se erigiam como pequenos vulcões de um prazer infindável, que despontam assim que são roçados. Sua barriga era linda, embora não se sentisse aquele gostoso sobe e desce provocado pela suave respiração. Suas nádegas preenchiam qualquer pedaço de pano com uma maestria que nem Ele fora capaz de imaginar. Sua bunda grande e durinha remete à estória greco-romana de quando as nádegas da Deusa foram esculpidas em um delicioso rendez-vouz anal. Suas pernas eram longas e não-delgadas, feitas na medida para se deliciar. Enfim, Suely nascera para ser perfeita, para atiçar as mais sórdidas vontades dos homens (e quiçá, das mulheres). A única coisa que nela se sentia meio estranho eram seus cabelos. Nunca eram os mesmos de um dia para o outro. Poderiam ser longos ou curtos, pretos ou vermelhos, dependendo da vontade da dona da loja. Como assim, dona? Sim, prezados leitores, agora a triste realidade. Suely não era uma mulher de verdade. Era uma boneca, era um manequim de loja. E o amor impossível do título desse conto se passou entre Gabriel, um garoto de 10 anos e Suely. Por mais que nossas cabeças não aceitem tais formas de paixões, para Gabriel foi algo estarrecedor. Platonismo que se tornou palpável. Ora, humanos apaixonam-se por porcos, galinhas... que mal tem em se amar uma manequim. A história do início dessa paixão começou assim: Gabriel estava com a mãe e juntos entraram na loja da tia de Gael, irmã de sua mãe. Gaelzinho, curioso, foi até os fundos da loja. Era uma loja de madamas, loja de moda. Por baixo de um pano negro, empoeirado, Gabriel notou que um humano despontava dali, sufocado, parecendo querer sair debaixo daquela funérea mortalha. De pronto, Gabriel puxou o pano e diante de seus olhos, surgiu aquela doce figura esplêndida, acima descrita. Do alto do início da explosão dos seus hormônios, o pau de Gael intumesceu. Ele, em um misto de vergonha e excitatio, correu para recobrir Suely, não sem antes escanear cada milímetro de seu corpo para uma futura consumação de seus desejos. Depois do encontro inicial, Gaelzinho não mais dormia, pensando em Suely a todo o momento. Ele sabia que não teria o sopro para torná-la real, mas possuir aquele corpo, realizar com Suely todas as fantasias que ele aprendera nas revistinhas baratas de sacanagem virou seu intento maior, primordial. Na idade de Gaelzinho, as garotas não passam de sonhos distantes (até pelo fato de que aos 10, nenhuma garota excita ninguém). Os garotos dessa idade utilizam-se de dois recursos para saciarem suas sedes: relações com outros garotos (sem alcunha homossexual) ou expedientes onanísticos com revistas, filmes e internet. Gabriel fora mais longe que os de sua idade: queria realizar-se com uma semi-deusa de plástico, sem vida, sem pulso, mas com formas realísticas que nenhuma revista poderia o dar. Dito e feito, Gabriel tramou um plano com o intento de ter Suely para si. Numa tarde do meio de uma semana de suas férias escolares, Gael fora ajudar sua tia na loja das madamas. Trama não trama, duas ou três tardes na loja da tia e eis a recompensa: sabendo dos horários dos funcionários que tinham a chave do almoxarifado onde Suely se encontrava, Gabriel pode passar algumas deliciosas horas com sua paixão, outrora platônica, agora mais que real. Muitos beijos, pau teso, suor, mas Suely não estava muito empolgada com as carícias afoitas de Gael. E eis que, em momento derradeiro de empolgação, Gabriel descobriu a parte de baixo do puído vestido que Suely vestia. Para triste decepção dele, Suely, muitíssimo real, sequer pêlos pubianos possuía – tal como Gabriel imaginara ter devido às lembranças das fotos em que todas as mulheres possuíam. E mais decepção: ele descobriu que todas as bonecas, inclusive ela, não possuíam buracos onde ele pudesse meter. Ficou o gosto de contemplar uma “moça” que por mais dois ou três anos assombrou o imaginário de uma criança.


terça-feira, 24 de maio de 2011

Bombom (poesia)

p/ Dinaura

http://bit.ly/k0yRep (resumo da novela “Órfãos do Eldorado” de Miltom Hatoum)


Eu tenho certeza que ela é Dinaura, personagem da novela do Hatoum
Ela se me vem, sorrateira, como uma cobra
Dá-me falsa esperança ou doces ilusões
Depois some. Não nas brenhas dos matos
Some, não, refugia-se em seu amor masculino
E me deixa embasbacado, pensando como seria legal se ela também fosse minha
Queria eu estar enganado

***

Mulher bonita como ela complicado existir
Minha Dinaura imagética além de bela de rosto e corpo
É inteligente demais, simpática demais, bem humorada demais
Enfim, ela tem tudo demais - homem demais na sua vida, inclusive

***

Ela é como bombom de cupuaçu e castanha embalado em papel barato:
dificil de se desembrulhar, mas delicioso de se comer



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Recortes do cotidiano (micro contos)


(Rato)

  • Eita, porra! Olha lá o tamanho do rato....
  • Onde?
  • Ali, por cima do pacote de pão.
  • Deixe pra lá. O pacote tá fechado. Não tem risco de bactéria.


(Mulheres atrás)

  • Senhor, porque você sempre anda na frente e sua esposa atrás?
  • Por que é assim que as coisas funcionam: homens mandam, mulheres obedecem.
  • Chico Buarque falava que “por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz”.
  • Quem?
  • Chico.
  • Não conheço. Deve ser viado.


    (O que é?)
     
  • Sua mãe tá demorando demais. Ela deve de sacanagem.
  • Pai, o que é sacanagem?


(Judas)

  • Amarra o neguinho no poste e depois vamos bater nele.
  • Quem é esse neguinho?
  • Disseram que é Judas. Judinhas.
  • Mas Judas não era branco?
  •  Whatever, mermão, whatever.


(Do Pará)

  • Bonita tatuagem.
  • Qual? A das costas?
  • Não! A da bunda.
  • Obrigada! Essa tatuagem é a mais conhecida do Oeste do Pará!



(Matemática)


  • Hoje em dia 99% dos jovens transam.
  • Pô, quando eu era jovem nunca transei. Era o 1%.
  • Do jeito que as coisas vão lá em casa capaz de você entrar nos 1% de novo.
  • Maldita estatística.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pedofílicas - parte 3 (poesia)


Rogai


Perdido no mais recôndito cantinho da minha mente
Misturava os sentimentos
Pecado ou não?
Abria os olhos e a epifania se me vinha
E eu falava: “Mas livrai-me do mal”
E o coro dos fiéis repetia laconicamente: “Amém”


Eu os indistinguia: homens e mulheres, jovens ou velhos
Mas eu sentia uma réstia de um tesão inexplicável
Por aqueles que justamente nada poderia sentir
Condenado eu à cadeira do dragão do inferno?
Não sei!
Sei do volume por baixo da minha bata
Quando eu empurrava a óstia por aquela boca pueril
Quedando-me em malícias
E imaginando ali ser meu pau


Uma voz reverberava em mim e dizia:
“Sued, isso é pecado”
Imaginava que a voz fosse reflexo
Reflexo da onipresença e da onisciência de Deus
Que com seu olho via o que se passava
Na sacristia, depois da missa
felattio e orgias
Homéricas em primazia


Auto-penitência para extirpar da carne
Malévolos pensamentos, ditames demoníacos
Ou entregar-me aos prazeres frívolos do pedaço do meu músculo
Que intumesce de sangue quando eu avisto os garotos?
Dúvidas me corroem
E eu não cedo a elas. E continuo a pregar aos fiéis
E continuo a executar meu hediondo crime particular
Que todos rechaçam
E só posso falar assim como se fosse uma auto-absolvição:
Rogai por nós os pecadores”

terça-feira, 3 de maio de 2011

Pedofílicas - parte 2 (poesia)


Anal

Querendo mais que o habitual
Além de meter nos campos vulvais
Da garotinha impávida e estática
Eu queria lá, onde as mulheres
(sempre elas)
Dizem: não! aí dói!

-

Mas queria eu ser o primeiro homem
A conceder a ela o prazer de se sentir gozada
Onde poucas vezes na vida dela
Irão um dia chegar
Com brutalidade eu começo
Forçando a entrada e a fazendo chorar

-

Sem falsas esperanças
Ou juras de amor
Curro-lhe as pueris nádegas
E deixo minha marca efêmera de porra leitosa
E deixo minha marca psicológica eterna estampada na cabeça dela.