quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Faxina (poesia)


Sete da manhã
E aquela maldita fresta de luz solar insiste em vazar do telhado
E cuspir um bom dia gostoso na minha cara preguiçosa
Olho para baixo e alcanço meus óculos
Enxergo um tufo de cabelos escuros, embolados, a ir e vir pelo chão do meu quarto
Aparo o tricobenzoar com a mão e desnovelo-o


Daí enrodilho um fiozinho em meu dedo indicador e levo-o ao nariz
Numa vã tentativa de respirar algum evanescente perfume
- resquício de uma bespa -
E nada, nada... Só o cheiro da queratina inodora


E começo uma faxina sem-vergonha em meu quarto
Varro tudo sem muita disposição e logo outras tantos tufos se juntam ao primeiro
“é muito cabelo”, penso eu
E penso também que aqueles resquícios dela são lembranças
De uma noite gostosa
Que reverberará eternamente enquanto durar tudo o que sinto por ela
- e vos garanto que o que sinto não é pouco -


E lembro-me da gente compartilhando os fones de ouvidos
E abraçadinhos
E ouvindo Maria Rita

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