sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Seborréia (poesia)


Do alto de seus 1,70m
do claro que se faz a noite quando tu arregalas esses olhos azuis
do cheiro de framboesa de quando tu expiras esse hálito gostoso
do perfume inebriante que exsuda das suas axilas
dos seus bólidos seios que trepidam suaves no seu colo sardentinho
da sua tez, morena-clara, que me faz salivar


Você é o arquétipo da mulher que eu quero ter e foder
- todos os dias -
embora, saibamos que “todos os dias” é impossível
but don't matter
você é toda um soneto bem lapidado
um Bruno Tolentino
métrica perfeita e rimas exultantes


Mas a natureza da perfeição não é tão perfeita assim
ela é implacável às vezes
e dana-lhe a enfeiar uma ou outra coisinha
mas sem nunca estragar o conjunto da obra
pois não sou viado e pouco me importo
com celulites ou estrias


Mas essas caspas eternas que do seu cabelo negro caem
e que salpicam de branco minha camisa de cor escura
podem virar, já disse, uma grotesca seborréia

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sociedade e BBB (análise)


Depois dizem que o Big Brother Brasil é programa televisivo para mentecaptos. Quem sabe peneirar as boas coisas do BBB se safa com tiradas sobre sociologia e antropologia que estão sutilmente embutidas ali. Logo na primeira semana de programa, a saída da Ariadna Thalia (transexual) me remeteu a uma ideia muito forte. À ideia da involução social pela qual o Brasil vem passando pelos últimos 20 anos. Em 1984 (eu tinha seis anos, então), me lembro bem, havia a Roberta Close, a transexual mais famosa do Brasil. Nesse ano ela estreava um clipe da música “Dá um close nela”, do Erasmo Carlos e a Roberta foi capa da Playboy e de várias revistas de circulação nacional. Unanimidade. Roberta Close encantava homens, mulheres e meninos. Todos ficavam fascinados com sua beleza e feminilidade. Acredito que havia uma moral mais frouxa no Brasil, que fazia com a sexualidade e a personalidade da moça em questão (a Roberta Close) sequer fossem questionadas. O cara era “homem” e queria ser mulher. Emascula-se ele e pronto. Ninguém, na época, precisava debater sobre a psiquê do ex-rapaz ou sobre a tautologia que motivou ele a querer virar ela. Simplesmente o fato era aceito e a galera curtia mesmo ver a Roberta Close de biquininho. Vale lembrar o contexto histórico do Brasil em 1984: início da redemocratização, Diretas Já fervilhando, sufoco econômico e superinflação.


Eis que iremos dar um sato temporal direto para 2011. 27 anos depois e começa a 11º edição do reality show Big Brother Brasil. Com uma grande novidade: a participação de uma transexual, Ariadna. Para minha surpresa, notei um estranhamento nas pessoas que veem o BBB11: a maioria rechaça a ideia de um homem virar mulher cirurgicamente (e mais importante, psicologicamente) e taxam a srta. de “viado”, “traveco” etc. A quantidade de pessoas abismadas com o fato de um homem emascular-se e ficar com aparência feminina tanto revoltou parte da população brasileira, que Ariadna foi eliminada do reality show com quase metade dos votos no dia 18 de Janeiro de 2011.


A análise: em 27 anos o Brasil deixou de ser uma ditadura para ser uma democracia frouxa e demagoga, onde o dinheiro no bolso dos cidadãos serve de cala-boca para acobertar a corrupção e a impunidade reinante no país. O brasileiro parece que se idiotizou em 27 anos: sem ter contra o que lutar e com mais poderio econômico, as questões com as quais o povo tem que preocupar agora não são mais relacionadas com a nação. Mas sim com a moral e os costumes. Em 27 anos eu vi os jovens caminhando na contra-corrente da liberdade sexual, vi pessoas de todas as classes e credos se voltando contra homossexuais, vi iconoclastia que guiava com mãos de chumbo o pensamento coletivo a dizer não sonoro contra aborto, contra ateus, contra ciência, contra transexuais, contra Ariadna do BBB11. Um triste reflexo de como um povo pode involuir em questões básicas de cidadania e se tornar uma plebe de ignorantes, desletrados e intolerantes com as minorias.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Bocage do Inferno (poesia)

para Bocage




Paradoxos:
uma é pura, por onde entram os alimentos
com dentes e língua, oscula mãos de damas, santidades e excelências
o outro, insignificantemente,
cravejado de pregas e pelos, serve apenas para dejetos
- ou seriam DESEJOS -


Pela boca, pelos céus
não há como não lembrar de frescor, de bom hálito
de frutas temperadas e tropicais e quiçá
de mel
Um beijo cheio de tesões lembra boca com boca
com as línguas se ribombando em pequenos estalos
e no mínimo toque de dente com dente, sorrisinhos encabulados
acompanhados de mil perdões


Lá embaixo do corpo
logo abaixo da linha do Equador do umbigo
resigna-se o cu
- provavelmente sujo -
depois de ter cagado a refeição lauta que sua boca mastigou


Mas quisera um Grego
experimentar a maldita região da Vênus Calipígea como fonte de prazer
com o dedo, a língua ou o pênis
enfiados ou roçados
o ânus, na acepção não-cristã,
rende prazeres inexoráveis


Eu falo por mim mesmo reverberando a voz de todos os homens do mundo:
adoro o gosto do meu cu na boca dela
- puta arquetípica do meu onirismo -

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um babado por um gato (conto)




*Optei livremente por não usar a norma culta de ortografia e sintaxe da língua portuguesa

João Pessoa, 2004. Numa noite daquelas, morrentas, resolvi beber com um amigo. Em casa mesmo, só para passar o tempo, falar merda e ir dormir numa boa. O menu: carne do sol, calabresa e uma farinha. A carta: cachaça Volúpia com limão (ou como se diz na amazônia central – Butaceae com Poaceae). O som: devia ser algum bom samba (mas desse detalhe não estou bem a me lembrar). Findo alguns goles da boa pinga e constatado que estávamos com alguma grana no bolso (o que era coisa rara e extraordinária), resolvemos ir pro cabaré que ficava a poucos metros de minha casa. Efectu’s Night Club. Coisa muito boa, refinada. Do jeito que gosto. Não pagava a consumação, nunca comia ninguém, pois lá não havia a facilidade de quartos e as putas eram todas gente boa, capazes de ficar conversando com a gente a noite toda em troca de uns tragos de cerveja. Bem, eu e esse amigo entramos lá na casa de burlesco e nos sentamos de costas para a parede (como é o costume em ambientes desse tipo). O movimento tava fraco e quase não tinha raparigas na casa. A música era horrível, mas o nosso estado de embriaguez permitia suportarmos o brega, forró e outros quetais que rolavam por lá. Lá para as tantas, boquinha da madrugada, mais ou menos meia-noite e meia, chegou um encanto de menina, uma princesa da vadiagem. O nome dela pouco importava, pois, certamente, era falso. Fui abordá-la antes que algum outro cliente o fizesse. Dois beijinhos e perguntei seu nome: Amanda. Ela era esguia, mas tinha boas pernas e seios bons também. Uma cintura ótima e um bom senso de humor. Foi, inclusive, seu senso de humor, que me permitiu entender que a natureza da beleza das mulheres nunca é perfeita: ao dar um sorriso gostoso, percebi que na Amanda boca estavam a lhe faltar alguns dentes. E a mais chamativa falta era a presa esquerda que lhe dava um ar de eleganté derrotada. Normal! Eu estava doido para comê-la e uns dentes há menos pouco faria diferença. Chamei-a à mesa e apresentei-a ao amigo. Ofereci uma cerveja e ela, gentilmente, aceitou-a. Ficamos trocando figurinhas, falando amenidades, coisas normais que a baixa escolaridade dela pudesse compreender. Nada de dissertações, CNPq, Capes, prazos, qualificações. O papo era a última música do Calypso, a “dança da cachorra” e os funks cariocas que estavam a fazer sucesso. Papo de puta: vazio e divertidíssimo. Acabada algumas latinhas de cerveja a R$ 2,50, o papo já tomou outra conotação. Falávamos de sacanagem, safadezas. O que você mais gosta na cama? E o cu? Você dá? Você goza gritando ou gemendo? Vocês curtem fio-terra? Vocês gostam de garotas putonas? Perguntas típicas. Respondíamos e perguntávamos tudo sem pudores falsos, sem puritanismos. Os puritanismos ficam do lado de fora do puteiro, ficam na cabeça das pessoas da “sala de jantar”. E eis que a proposta derradeira: você cobra quanto pelo programa? “o babado é R$ 100,00”. Babado era o termo corrente entre as meninas da noite. Retruquei, com malícia: “100 paus por pessoa ou pros dois aqui?”. Resposta: “não, baby, 100 por cada um”. Tem um ditado que diz que o juízo do homem fica na cabeça do pau. Concordo. E com aditivo alcoólico, fica tudo pior: a gente, homens, não raciocina e tudo vira função de comer, a qualquer preço, a mulher que se quer ter. Estava bebum e com grana no bolso, chegou a hora de começar a negociação. Pechinchas e promessas de que “eu gozo logo” são os lugares comuns mais óbvios que as meninas mais costumam ouvir. E eu e meu amigo estávamos decididos e comer ela em um ménage à trois. E ela disse que era virgem do rabo e as porras todas. E ficou fazendo cu doce (outro expediente muito comum entre as meninas) e a dizer que “tá bom, como vocês são legais, vou fazer R$ 100,00 para os dois. Mas cada um me come um de cada vez. Sem “troá”, combinado?” Mas é óbvio que sim! Por 50 pilas cada um iríamos fazer sexo com uma princesinha que além de dizer que meu pau era gigante, iria fazer-me acreditar que lhe dei um orgasmo. Combinamos um táxi para nos levar ao apê do meu amigo com um cara mal-encarado chamado Cigano, por cinco paus vai e volta. Entramos no velho Santana com os bancos rasgados e um cheiro mal: meu amigo e Amanda no banco traseiro e eu no passageiro. Chegamos ao apê do meu amigo. Subimos a escadaria e Amanda, embriagada, estava a fazer barulho, dizer sacanagem em voz alta e ensaiar uns gritinhos. Bem, entramos no apê e Amanda foi mijar, lavar a xereca, passar batom, perfume, enfim, fazer toalete de puta. Eu e meu amigo travamos uma conversa mui delicada, quase diplomática, parecia conferência da ONU: quem iria comer Amanda primeiro? Eu ofereci-me para comer o “pão com banha”, mas meu amigo, achando-me mais experiente ou com algum nervoso, cedeu-me as honras de “estreá-la”. Acabada a preleção, Amanda sai do quarto maravilhada com uns gatos que meu amigo criava para si. Siameses, acho. Uma última cervejinha na sala do apê e levei Amanda pro quarto. Ah, que 50 mangos mais bem gastos. Todos os homens deveriam saber que a sensação de pagar por sexo não é boba, nem diminuída de sentimentos. Sim, é fugaz, mas muito boa. Depois Amanda tomou um bom banho e foi a vez do meu amigo. Findado os serviços, Amanda foi até a sala e ficou se arrumando para voltar com o Cigano e eu. Ela ficou encantada com um filhote de gato que estava por lá. Ela dizia que o filho dela iria adorar o bichano. Ela perguntou: “você mim dá ele?”. Num impulso eu retruquei: “só se tiver desconto no programa. o gato é de raça, bem cuidado, vermifugado, livre de pulgas e carrapatos”. Ela, para surpresa minha e do meu amigo, respondeu: “tudo bem! mim dêem R$ 40,00 e a gente fica acertado”. E foi assim que ficou conhecido esse episódio super-insólito: um babado por um gato. Fizemos um sexo (fizemos no plural, pois foram dois homens que se esvaziaram naquela noite) por 20 paus cada e um gato mestiço.

Em tempo: depois eu soube que o gato da Amanda fugiu e que ela perdeu a presa direita.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poesias da Infância 3 - Buceta (poesia)

Uma questão antiga
Aqui se perpetuará
Mas antes da pergunta vamos à buceta


Tantos apelidos
Uns pueris, quiçá infantis
Perereca é herpetológico
Flor é mimo para menininhas
Grota é escatológico, lembrando sujeira
Prefiro buceta mesmo
Ao educado e cheio de pudor
Boceta com O e sem U


Pelos, porque não tê-los
Um pouco nunca é demais
Demais é demasia
Para o bel prazer da boca na vulva
Uma penugem raspadinha
Basta para as cosquinhas


A pergunta ei-la afinal
Quem come quem?
O pau a buceta
Ou
A buceta o pau

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poesias da Infância 2 - Cu (poesia)

Cu é bom
Apertado
Delícia lá de trás
Uma palavrinha de uma sílaba
Duas letras somente
- que configuram palavrão -


Não queria verborizar sobre suas gostosuras
Do cu vamos apenas falar
Buraquinho teimoso
Que sempre quer se fechar
Olhinho que se pisca
Quando se dedo enfia e se tira
Tira e enfia
Enfia e deixa
Deixa


Numa aula de sexologia cristã aprendi que cu é pra cagar
- somente -
E resolvi perguntar
Que se é só pra cagar
Por que todo mundo quer enfiar?


Cu já foi divido, hoje não mais
Perfídia flor que o puro não pode cheirar
Eu beijo, chupo e meto
E ainda pergunto, com cara de pau
- ou ponta de esperança -
Se hoje teremos rendez vous anal

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Poesias da infância 1 - Pica (poesia)

Espicaça a pica na xota
Mas não mete, só roça
Elas gostam assim
Explicava ele, veementemente


Guarde a pica na cueca
E dê a ela uma gozada
- Sem que metas -
A pica fica pro final das contas
Arcabouçava a opinião com uma sentença magistral


Ora das injustiças
O finzinho ter que ser com pica
Vou falar com ela
Para mudarmos o rendez vous
E terminarmos ao invés de pica
Com cu

sábado, 1 de janeiro de 2011

Alguns vícios (poesia)

Scotch on the rocks eu te quero
Mas apenas três doses
Para não me embriagar
Sendo que depois de meia garrafa
- e bêbado -
Posto-me com a cabeça na privada
E vomito toda a existência do meu ser vivo.

***

O barulhinho é indefectível
Estala na marica e depois no pulmão
- reverberando toda a mazela e desgraça que se me abate -
E sob o calor do isqueirinho
A pedrinha estala inocente
 crack, crack

***

Lerdeza é a sensação
Não torpeza como se diz na Barsa
E eu sempre queimo meus dedinhos
- quando no calor da brasa -
O pitoco do baseado se acaba