*Optei livremente por não usar a norma culta de ortografia e sintaxe da língua portuguesa
João Pessoa, 2004. Numa noite daquelas, morrentas, resolvi beber com um amigo. Em casa mesmo, só para passar o tempo, falar merda e ir dormir numa boa. O
menu: carne do sol, calabresa e uma farinha. A carta: cachaça Volúpia com limão (ou como se diz na amazônia central – Butaceae com Poaceae). O som: devia ser algum bom samba (mas desse detalhe não estou bem a me lembrar). Findo alguns goles da boa pinga e constatado que estávamos com alguma grana no bolso (o que era coisa rara e extraordinária), resolvemos ir pro cabaré que ficava a poucos metros de minha casa. Efectu’s Night Club. Coisa muito boa, refinada. Do jeito que gosto. Não pagava a consumação, nunca comia ninguém, pois lá não havia a facilidade de quartos e as putas eram todas gente boa, capazes de ficar conversando com a gente a noite toda em troca de uns tragos de cerveja. Bem, eu e esse amigo entramos lá na casa de burlesco e nos sentamos de costas para a parede (como é o costume em ambientes desse tipo). O movimento tava fraco e quase não tinha raparigas na casa. A música era horrível, mas o nosso estado de embriaguez permitia suportarmos o brega, forró e outros quetais que rolavam por lá. Lá para as tantas, boquinha da madrugada, mais ou menos meia-noite e meia, chegou um encanto de menina, uma princesa da vadiagem. O nome dela pouco importava, pois, certamente, era falso. Fui abordá-la antes que algum outro cliente o fizesse. Dois beijinhos e perguntei seu nome: Amanda. Ela era esguia, mas tinha boas pernas e seios bons também. Uma cintura ótima e um bom senso de humor. Foi, inclusive, seu senso de humor, que me permitiu entender que a natureza da beleza das mulheres nunca é perfeita: ao dar um sorriso gostoso, percebi que na Amanda boca estavam a lhe faltar alguns dentes. E a mais chamativa falta era a presa esquerda que lhe dava um ar de
eleganté derrotada. Normal! Eu estava doido para comê-la e uns dentes há menos pouco faria diferença. Chamei-a à mesa e apresentei-a ao amigo. Ofereci uma cerveja e ela, gentilmente, aceitou-a. Ficamos trocando figurinhas, falando amenidades, coisas normais que a baixa escolaridade dela pudesse compreender. Nada de dissertações, CNPq, Capes, prazos, qualificações. O papo era a última música do Calypso, a “dança da cachorra” e os funks cariocas que estavam a fazer sucesso. Papo de puta: vazio e divertidíssimo. Acabada algumas latinhas de cerveja a R$ 2,50, o papo já tomou outra conotação. Falávamos de sacanagem, safadezas. O que você mais gosta na cama? E o cu? Você dá? Você goza gritando ou gemendo? Vocês curtem fio-terra? Vocês gostam de garotas putonas? Perguntas típicas. Respondíamos e perguntávamos tudo sem pudores falsos, sem puritanismos. Os puritanismos ficam do lado de fora do puteiro, ficam na cabeça das pessoas da “sala de jantar”. E eis que a proposta derradeira: você cobra quanto pelo programa? “o babado é R$ 100,00”. Babado era o termo corrente entre as meninas da noite. Retruquei, com malícia: “100 paus por pessoa ou pros dois aqui?”. Resposta: “não, baby, 100 por cada um”. Tem um ditado que diz que o juízo do homem fica na cabeça do pau. Concordo. E com aditivo alcoólico, fica tudo pior: a gente, homens, não raciocina e tudo vira função de comer, a qualquer preço, a mulher que se quer ter. Estava bebum e com grana no bolso, chegou a hora de começar a negociação. Pechinchas e promessas de que “eu gozo logo” são os lugares comuns mais óbvios que as meninas mais costumam ouvir. E eu e meu amigo estávamos decididos e comer ela em um
ménage à trois. E ela disse que era virgem do rabo e as porras todas. E ficou fazendo cu doce (outro expediente muito comum entre as meninas) e a dizer que “tá bom, como vocês são legais, vou fazer R$ 100,00 para os dois. Mas cada um me come um de cada vez. Sem “troá”, combinado?” Mas é óbvio que sim! Por 50 pilas cada um iríamos fazer sexo com uma princesinha que além de dizer que meu pau era gigante, iria fazer-me acreditar que lhe dei um orgasmo. Combinamos um táxi para nos levar ao apê do meu amigo com um cara mal-encarado chamado Cigano, por cinco paus vai e volta. Entramos no velho Santana com os bancos rasgados e um cheiro mal: meu amigo e Amanda no banco traseiro e eu no passageiro. Chegamos ao apê do meu amigo. Subimos a escadaria e Amanda, embriagada, estava a fazer barulho, dizer sacanagem em voz alta e ensaiar uns gritinhos. Bem, entramos no apê e Amanda foi mijar, lavar a xereca, passar batom, perfume, enfim, fazer toalete de puta. Eu e meu amigo travamos uma conversa mui delicada, quase diplomática, parecia conferência da ONU: quem iria comer Amanda primeiro? Eu ofereci-me para comer o “pão com banha”, mas meu amigo, achando-me mais experiente ou com algum nervoso, cedeu-me as honras de “estreá-la”. Acabada a preleção, Amanda sai do quarto maravilhada com uns gatos que meu amigo criava para si. Siameses, acho. Uma última cervejinha na sala do apê e levei Amanda pro quarto. Ah, que 50 mangos mais bem gastos. Todos os homens deveriam saber que a sensação de pagar por sexo não é boba, nem diminuída de sentimentos. Sim, é fugaz, mas muito boa. Depois Amanda tomou um bom banho e foi a vez do meu amigo. Findado os serviços, Amanda foi até a sala e ficou se arrumando para voltar com o Cigano e eu. Ela ficou encantada com um filhote de gato que estava por lá. Ela dizia que o filho dela iria adorar o bichano. Ela perguntou: “você
mim dá ele?”. Num impulso eu retruquei: “só se tiver desconto no programa. o gato é de raça, bem cuidado, vermifugado, livre de pulgas e carrapatos”. Ela, para surpresa minha e do meu amigo, respondeu: “tudo bem!
mim dêem R$ 40,00 e a gente fica acertado”. E foi assim que ficou conhecido esse episódio super-insólito: um babado por um gato. Fizemos um sexo (fizemos no plural, pois foram dois homens que se esvaziaram naquela noite) por 20 paus cada e um gato mestiço.
Em tempo: depois eu soube que o gato da Amanda fugiu e que ela perdeu a presa direita.
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