quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sociedade e BBB (análise)


Depois dizem que o Big Brother Brasil é programa televisivo para mentecaptos. Quem sabe peneirar as boas coisas do BBB se safa com tiradas sobre sociologia e antropologia que estão sutilmente embutidas ali. Logo na primeira semana de programa, a saída da Ariadna Thalia (transexual) me remeteu a uma ideia muito forte. À ideia da involução social pela qual o Brasil vem passando pelos últimos 20 anos. Em 1984 (eu tinha seis anos, então), me lembro bem, havia a Roberta Close, a transexual mais famosa do Brasil. Nesse ano ela estreava um clipe da música “Dá um close nela”, do Erasmo Carlos e a Roberta foi capa da Playboy e de várias revistas de circulação nacional. Unanimidade. Roberta Close encantava homens, mulheres e meninos. Todos ficavam fascinados com sua beleza e feminilidade. Acredito que havia uma moral mais frouxa no Brasil, que fazia com a sexualidade e a personalidade da moça em questão (a Roberta Close) sequer fossem questionadas. O cara era “homem” e queria ser mulher. Emascula-se ele e pronto. Ninguém, na época, precisava debater sobre a psiquê do ex-rapaz ou sobre a tautologia que motivou ele a querer virar ela. Simplesmente o fato era aceito e a galera curtia mesmo ver a Roberta Close de biquininho. Vale lembrar o contexto histórico do Brasil em 1984: início da redemocratização, Diretas Já fervilhando, sufoco econômico e superinflação.


Eis que iremos dar um sato temporal direto para 2011. 27 anos depois e começa a 11º edição do reality show Big Brother Brasil. Com uma grande novidade: a participação de uma transexual, Ariadna. Para minha surpresa, notei um estranhamento nas pessoas que veem o BBB11: a maioria rechaça a ideia de um homem virar mulher cirurgicamente (e mais importante, psicologicamente) e taxam a srta. de “viado”, “traveco” etc. A quantidade de pessoas abismadas com o fato de um homem emascular-se e ficar com aparência feminina tanto revoltou parte da população brasileira, que Ariadna foi eliminada do reality show com quase metade dos votos no dia 18 de Janeiro de 2011.


A análise: em 27 anos o Brasil deixou de ser uma ditadura para ser uma democracia frouxa e demagoga, onde o dinheiro no bolso dos cidadãos serve de cala-boca para acobertar a corrupção e a impunidade reinante no país. O brasileiro parece que se idiotizou em 27 anos: sem ter contra o que lutar e com mais poderio econômico, as questões com as quais o povo tem que preocupar agora não são mais relacionadas com a nação. Mas sim com a moral e os costumes. Em 27 anos eu vi os jovens caminhando na contra-corrente da liberdade sexual, vi pessoas de todas as classes e credos se voltando contra homossexuais, vi iconoclastia que guiava com mãos de chumbo o pensamento coletivo a dizer não sonoro contra aborto, contra ateus, contra ciência, contra transexuais, contra Ariadna do BBB11. Um triste reflexo de como um povo pode involuir em questões básicas de cidadania e se tornar uma plebe de ignorantes, desletrados e intolerantes com as minorias.

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