A
pelagem branca
Suas
longas orelhas
Seus
olhões vermelhos
E
seu jeitinho nervosão denunciava:
Eis
aqui um coelho.
Sua
voz e sua risada
Eram
de um ecoar tétrico
Seus
cabelos encaracolados lhe davam uma aparência volumosa
Ela
era séria e compenetrada
Seria
ela uma espécie arquetípica de um algoz?
O
bichinho arfava demais
Talvez
prevendo desgraça futura
Tentava
em vão roer a tela de arame grosso de sua gaiolinha
Provocando
ferimentos em seus lábios e língua
Que
fazia juntar varejeiras verdes a zum-zar ao redor de sua boca encostrada de
sangue
E
ela é muito séria e faz de seu labor um ofício sacrossanto
Ela
fala poucas palavras com a dureza e rascância de um general
Ordens
aqui e ali
Pois
ela sabe que o crudelismo do ato que ela fará em breve
Não
permite nhém, nhém, nhém
Alçado
pelas orelhonas
O
coelho que outrora fora branco
Agora
está encardido e sujo de merda e mijo
Excitadíssimo,
ao menor toque de mão humana sobre sua pele
Ele
sente um calafrio mortuário, seco e breve
Antevendo
a lâmina afiada do algoz penetrar-lhe sua carne
Mas
que nada de lâmina
Das
mãos dela só afagos aconchegantes
Por
sobre a pelagem fedida de um fedor ocre
E
o coelho rogozijando-se, revirando os olhos em um êxtase inenarrável
Êxtase
de quem sabe dos toques
O
coelhinho parou de respirar nervoso
E
aliviou-se ali a sensação da proximidade com a velha da foice
Mas
num segundo ouviu-se um “croc”
O
“croc” do destroncar das vértebras do pescoço do leporino animal
Desfalecido
e todo molengo nas manzorras dela o bicho jazia
E ela ordenava para seu
ajudante: “próximo coelho, por favor”
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