quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Rubro (poesia)


E eu um dia desses fui lavar uma louça lá em casa.



E quando eu peguei na faca, percebi que havia um monte de catch up impregnado nas serras e nos gomos.



E quando deixei o fio de água escorrer pela torneira para que a faca fosse limpa percebi algo:



O líquido vermelho que da faca escorria e que pelo ralo descia parecia sangue. Veio um gosto de um amargor terrível na minha boca. Asco ou nojo ou repulsa.



Mas pensei algo: nunca tive nada contra ver sangue (e aquilo que descia da faca era catch up)... Então porque a ânsia que se me atingia. Que porra era aquela? Coisa de veado? Medinho de sangue? (mas aquilo não era catch up, porra).



De repente: catabum!!! Desmaiei e caí estatelado no chão. Quase me fodo e quebro toda minha cabeça. E só fui acordar dois dias depois numa enfermaria de hospital que mais parecia um açougue de tanto cheiro de mijo e merda e sangue e tripa escorrendo por todos os cantinhos daquele insalubre ambiente. Não fosse por um vasinho com flores no canto e que cuja amarelez irradiava de alegria toda aquela imundície, juraria eu que estivesse dentro de uma pocilga.



E um médico FDP me acorda aos gritos, bem assim: “Tu ta é louco, filho de uma puta... queres morrer. Mate-se pulando de um prédio bem alto que é para dar trabalho ao legista e não para mim”.



Atordoado fiquei por bem uns 15, 20 minutos até cair a ficha e lembrar-me que o catch up que da faca escorrera não era catch up, não. Era sangue meu, mesmo. Eu havia tentado me matar por causa de uns negócios aí.


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